Ervas
As plantas que curam
“Aí a gente recolhe todas as ervas que foram trazidas, a gente reza, a gente canta, a gente saúda os poderes dos seres vegetais e todas as ervas que a gente usa são ervas que são plantadas por nós. A gente não compra nada, a gente precisa saber de onde elas vieram. E aqui a gente mora numa natureza abundante apesar de ter os agrotóxicos invadindo o nosso território há algum tempo. E uma outra coisa que a gente viu é que para que a gente possa preservar o conhecimento dos mais velhos, o conhecimento ancestral que vem lá dos nossos povos indígenas, das matrizes afro brasileiras, a gente tem que ter essas ervas plantadas, senão esse conhecimento vai se perder, uma coisa tá ligada a outra. Como é que a gente vai dizer: Vamos tomar um chazinho de erva cidreira, ou outro chazinho de cavalinha se não existe. Se as pessoas não sabem nem mais o que é essa erva.”
(Luiza Borba)
Cada planta tem seus poderes, que associados ou não, como na temperada de seu Orides, são medicina. E no contexto pesquisado, está relacionada também à rezas, banhos, cantos e rituais de cura. A Planta viaja e cresce em diferentes contextos, é plantada ou coletada. Está no território, é visível na paisagem e antropologicamente tangível, pois está na memória e na identidade de seus fazedores. As receitas de cura são passadas de forma oral, narrativa, falada ou cantada. A planta está no ciclo de vida das raizeiras, raizeiros, rezadeiras, rezadeiros, curandeiras e curandeiros da região há mais de 300 anos. A partir de matrizes culturais africanas, indígenas e europeias, a história de conhecimento e uso destas plantas co-funde-se à própria história de ocupação deste lugar. Mais de 80 tipos de plantas foram referidas nas entrevistas, conversas e visitas aos quintais das mestras e mestres. A seguir apresentamos apenas um recorte amostral desta variedade de espécies manejadas pela população da região em suas práticas tradicionais de cura.