O Lugar

Uma breve introdução


O Rio Bonito compõe o veio central de drenagem da bacia hidrográfica homônima e corta a serra do Mar em direção ao Encontro dos Rios, onde encontra-se com o Rio Macaé. Esta região é a morada de inúmeras comunidades tradicionais que vivem atualmente em contextos associados a economia e a sociabilidade do turismo de veraneio. Tradicionalmente agricultores e camponeses, os habitantes destas comunidades estão hoje impedidos pelas legislações ambientais vigentes de exercerem suas práticas tradicionais em territórios coletivos, como faziam no passado. Desta forma, praticam hoje em dia, a agricultura em escala doméstica, realizando nos quintais de suas casas o manejo de espécies nativas.

As conhecidas farmácias verdes, mantidas principalmente pelas mulheres, em especial as mais velhas, são recorrentes paisagens destacadas nos inúmeros quintais das comunidades rurais localizadas no entorno desta bacia hidrográfica,  territórios estes, que mantém o vínculo destas populações às práticas tradicionais relacionada aos rituais de cura, transmitidas de geração para geração  a partir do manejo desta paisagem.

Ao reconhecer as potencialidades da sociobiodiversidade desta região de Mata Atlântica preservada e  ao inventariar através de registros sensíveis os saberes tradicionais associados ao uso das plantas nativas da Mata Atlântica pretendemos valorizar e estimular a preservação destas, com o intuito de contribuir para a  proteção da sociobiodiversidade e valorização deste patrimônio cultural do Estado do Rio de Janeiro.

Contexto histórico e arqueológico

A bacia do Rio Bonito, região de abrangência da da pesquisa, está geopoliticamente inserida no município de Nova Friburgo, na porção Nordeste do Estado do Rio de Janeiro. Devido a sua paisagem aprazível e favorável foi o vetor de ocupação de diferentes grupos em diferentes tempos, abrangendo desde a ocupação pré-cabralina de grupos tupy e macro-Gê,  à ocupação colonial imperial e escravocrata,  que trouxe também para as vertentes afloradas e escarpadas da serra do Mar, no início do século XIX (1818), muitos imigrantes europeus inicialmente encaminhados para áreas de potencial agrícola e pecuária. A busca por terras sem dono levaram contingentes de colonos europeus, na maioria suíços e alemães, à entrada nos vales que já estavam ocupados.

Terra de passagem, esta região era a rota utilizada para o envio de negros escravizados que aportavam no litoral norte do estado àas lavouras de cantagalo e para áreas de mineração na região de Minas Gerais.

Os vales encaixados do rio Bonito e Macaé, serviram de abrigo e esconderijo, para os negros fugidos. No percurso, a região torna-se um refúgio ideal para os quilombos de resistência à exploração colonial. Deste processo surgem ambientes mistos, polifônicos, multilisguisticos e transculturais. Eram Índios, africanos, colonos suiços e alemães e portugueses com seu staff colonial transnacional. O conhecimento e interação destes nativos com a paisagem, com as plantas e suas práticas de cura, aponta para um saber compartilhado ao longo destes séculos.

Geomorfologia da paisagem

A bacia hidrográfica  do Rio Bonito e do Rio Macaé, em seu alto curso, está inserida integralmente no conjunto geomorfológico das escarpas e reversos da Serra do Mar. Essa unidade geomorfológica tem feições de relevo caracterizadas pela alta declividade, vales profundos, escarpas  e desníveis de altitude de mais de 1000m, em sua maioria composta por picos e colinas afloradas.

A variação do clima e os níveis de pluviosidade associados criam um ambiente de microclimas com  grande biodiversidade vegetal e animal. Essa biodiversidade vegetal interage diretamente com a sociodiversidade local, variáveis norteadoras desta pesquisa.

As escarpas e vales são densamente preenchidos por florestas, que muito embora tenha  gradiente aumentado de conservação nos vales encaixados e no entorno dos afloramentos rochosos, aparece associada à áreas antropizadas com vegetação secundária, evidentes em geral nas imediações das áreas de proteção permanente (APPs) e nas planícies fluviais existente, frequentemente utilizadas para ocupação das casas da comunidade local e dos sitiantes.

Lugares

O lugar de Dona Hélia

O lugar de Dona Idalice

Paisagem

Paisagem 1